A segunda maior cidade da Bahia, Feira de Santana, com 609 mil habitantes, já vive um surto de dengue em 2019. Somente este ano, 782 casos suspeitos foram notificados, com 370 confirmados e uma morte por dengue hemorrágica – ou dengue grave, como prefere classificar a Vigilância Epidemiológica da prefeitura de Feira de Santana. É a única cidade baiana em surto, segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab).

Até a quinta semana epidemiológica de 2019, Feira concentrava 51% de todos os 1.533 casos suspeitos de dengue no estado, distribuídos em 82 municípios. Em toda a Bahia, o número de notificações já é 134% maior do que no mesmo período de 2018, conforme dados divulgados ontem pela Sesab.

De acordo com o coordenador das Arbovirores da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab, Gabriel Muricy, o aumento de casos de dengue na Bahia já era esperado por conta das altas temperaturas do Verão e das chuvas, que fazem aumentar os pontos com água parada.

Em relação a Feira de Santana, ele acredita que “possa ser que haja problemas com relação à Vigilância (Epdemiológica local), a forma de atuação e a quantidade de agentes. Certo é que não são só os governos municipal ou estadual que devem fazer o combate ao mosquito Aedes aegypti, mas toda a sociedade”, comentou.

Em Feira, a primeira vítima do ano foi uma jovem de 18 anos que morreu no dia 29 de janeiro. Outro caso suspeito de morte por dengue hemorrágica na Bahia está em investigação: uma idosa de Conceição do Jacuípe.

Ações

A Secretaria Municipal da Saúde de Feira de Santana (SMS) disse que a Vigilância Epidemiológica vem intensificando as ações contra o mosquito Aedes aegypti.

A Sesab também informou que enviou 370 kits completos para agentes, distribuiu 11 mil frascos de repelentes, além de usar o fumacê.

A cidade conta com 400 agentes de endemias que atuam em todas as comunidaes. Para contratar mais, seria necessário decretar estado de emergência, afirma a supervisora da Vigilância Epidemiológica Municipal, Neuza Santos de Jesus Silva. Na cidade, segundo ela, a procura por atendimentos para dengue dobrou na maioria dos 130 postos de saúde.

Os casos mais graves estão sendo nos distritos de Matinha (153 notificações até anteontem), Maria Quitéria (91) e Humildes (34), e nos bairros Conjunto Viveiros (66), Gabriela (22), Tomba (36), Feira X (29), Brasília (22) e Sítio Matias (18).

Apesar de ser a única cidade em surto, Feira não aparece entre as dez cidades com maior incidência de dengue no estado este ano (veja lista abaixo). O Coeficiente de Incidência (CI) leva em conta o número de casos suspeitos e a população da cidade.

No ano passado, no estado, foram notificados 9.596 casos suspeitos de dengue, com CI de 63,12 para cada 100 mil habitantes.

Segundo a Sesab, quando o CI é de a partir de 100 casos por cada 100 mil moradores já é considerado estado de alerta. Em toda a Bahia, 74 dos 417 municípios estão em risco de epidemia de dengue por outro índice - o de infestação predial, acima de 4%.


Entroncamento

Professor de Medicina da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), o infectologista Antônio Bandeira afirma que uma série de fatores, somados, expõem Feira de Santana às arboviroses. Em 2014, a cidade foi a primeira a registrar um caso de chikungunya e também uma das que mais sofreu com a doença.

Segundo Bandeira, o fato de o município estar em uma área de entroncamento, com várias rodovias federais próximas, a circulação de pessoas é muito grande. E muitas podem estar infectadas.

“Também temos um problema na cidade que é a grande proliferação de mosquitos que podem ser hospedeiros. Um mosquito dá uma picada em um pessoa infectada e já é mais do que suficiente para atingir diversas outras”, explica.

O pesquisador Gúbio Soares, do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia, afirma que há um descuido e descaso da sociedade com arboviroses.

Apesar de a Sesab confirmar o surto em Feira, o titular da pasta, Fábio Villas Boas, classifica a situação da cidade como um aumento natural decorrente do verão. Ele diz que a grande preocupação é com os casos que evoluem para a dengue do tipo 2, ou dengue hemorrágica. 

“É preciso que as unidades de saúde fiquem bastante atentas a [pacientes com] sinais de queda de plaqueta e sangramento, e que transfiram imediatamente para centros hospitalares capazes de tratar essas complicações”, orienta.

Fonte: Correio
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