O recente assassinato de um policial militar no estacionamento do Shopping Paralela, na Av. Luiz Viana Filho, reacendeu o sinal de alerta dos clientes quanto à segurança na hora de guardar os veículos nos espaços dos centros de compras na capital baiana.



Conhecidos por oferecer um ambiente confortável, os estabelecimentos comerciais com grandes estacionamentos tornam a ter a segurança questionada pelo público a cada caso de furto, roubo a mão armada ou sequestro, mesmo que não ocorram com a mesma frequência do que nas ruas.


Quem frequenta esses espaços, a exemplo da técnica de enfermagem Ionara Antunes, 36 anos, afirma sentir-se vulnerável à ação de criminosos que, segundo ela, aproveitam da amplitude dos estacionamentos para burlar os intervalos nas rondas feitas pelos seguranças dos estabelecimentos.


Para a cliente, os centros de compras não dispõem de funcionários de segurança suficientes para cobrir a dimensão dos estacionamentos. Diante disso, já com a chave na mão, ela observa ao redor, aperta o passo até o veículo e não demora a partir, como recomendam as autoridades de segurança.


"Eu acho que os estacionamentos, de shoppings a supermercados, não têm segurança suficiente tamanha a movimentação de clientes", observa. "Eu, pelo menos, me sinto muito vulnerável, pois, os estacionamentos são um pouco desertos, apesar da quantidade de carros", completa Ionara.



Medidas


Ao contrário da técnica em enfermagem, o empresário Wagner Prata, 31 anos, não mantém o mesmo nível de preocupação quanto a uma abordagem criminosa. Ele diz entregar a própria segurança à sorte de não acontecer algo inesperado quando nas dependências do estacionamento.



Até ser abordado pela equipe de reportagem de A TARDE, o empresário permaneceu por pouco mais de cinco minutos dentro de um carro suntuoso, enquanto mexia em algo no veículo, acompanhado da filha pequena, sem notar que estava sendo observado.


Segundo o empresário, entre as medidas de precaução adotadas por ele em caso de roubo, estão manter o veículo no seguro, o tanque sempre cheio e carregar consigo sempre alguma quantia em espécie na carteira para entregar aos criminosos.


"Quando tem que acontecer, acontece. Nenhum lugar é seguro por completo. Ainda mais que os shopping são lugares onde entra todo tipo de pessoa", avalia. "Agora, o que não se pode fazer é reagir a uma tentativa de assalto, sob hipótese alguma", acrescentou.


O sentimento de medo também não é diferente para quem precisa utilizar os estacionamentos dos supermercados. Nestes locais, os clientes precisam demorar ainda mais no espaço reservado aos carros, pois precisam arrumar as sacolas com as compras no porta-malas dos veículos.


A aposentada Neide Praine, 62 anos, diz que já anda "assombrada" quando vai em direção ao veículo nos grandes estacionamentos. Assustada, ela conta que já se habituou a acomodar as sacolas do supermercado rapidamente no carro para não dar margem a um eventual assalto.


"Por causa da violência, ando morrendo de medo. Não me sinto segura, nem em shopping nem em mercado", disse, enquanto distribui as compras no carro, no subsolo de um supermercado localizado na avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM). "No shopping, ao ver um estranho perto do carro, já chamei a segurança para me acompanhar", lembra.



Ocorrências


No último dia 28, o policial militar Fabiano Fortuna e Silva, 40 anos, morreu após ser baleado em um assalto no estacionamento do Shopping Paralela. Segundo informações da polícia, a vítima teria sido seguida pelos criminosos até o local, após sacar uma significativa quantia em dinheiro.


De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), o caso está sendo investigado por uma força-tarefa da pasta, que continua à procura dos dois criminosos que abordaram o policial em uma moto.


Em maio passado, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) sentenciou o Shopping da Bahia, antigo Iguatemi, a pagar indenização à família da pediatra Rita de Cássia Tavares Martinez, 39 anos, que foi encontrada morta em Santo Amaro, após ser sequestrada no estacionamento do centro de compras, em 2009.


Na ocasião, Rita foi levada por Gilvan Cléucio de Assis, 35 anos, enquanto saía do shopping junto com a filha de 1 ano e 8 meses, em 6 de setembro de 2009. O corpo da médica só foi encontrado no dia seguinte, com sinais de tentativa de estupro, pauladas e atropelamento. A criança, por sua vez, sobreviveu.


Outro caso que chamou atenção foi o sequestro de uma mulher no estacionamento no shopping Salvador Norte (São Cristóvão), em outubro de 2014. A vítima foi levada por dois homens, entre eles José Aparecido, que assumiu ter estuprado a mulher no ato do sequestro.



Procon-BA orienta usuários


O diretor de fiscalização da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA), Iratan Vilas Boas, explica que os estabelecimentos que oferecem estacionamento para os clientes são responsáveis por zelar pelo patrimônio dos consumidores, a não ser nos casos de exclusão de responsabilidade, como em um fenômeno natural.


Como base no artigo 1214 do Código de Defesa do Consumidor, além da súmula 130 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Vilas Boas informa que os direitos dos clientes estão assegurados, independentemente da culpa do fornecedor.


“É comum os estacionamentos colocarem placas nas quais informam não se responsabilizarem pelos pertences no interior do veículo, mas, em caso de furto ou roubo, os estabelecimentos têm responsabilidade, sim, quando na ocorrência de danos aos clientes em suas dependências”, diz.



Registro


Vilas Boas explica, ainda, que a regra vale também onde o serviço de estacionamento não é cobrado, como no caso dos supermercados. “Mesmo não sendo cobrado o serviço, os estabelecimentos têm o dever de zelar pelo patrimônio dos clientes”.


O diretor orienta que, caso o consumidor seja vítima de algum desses crimes, é importante registrar o ocorrido no serviço de atendimento ao cliente, na delegacia, buscar testemunhas, tirar fotos, guardar comprovantes, bem como notas fiscais, além de não remover o veículo do local.


“É importante reunir todas as evidências que comprovem a presença do cliente no local do ocorrido”, alerta. “Para que sirvam como provas, caso seja necessário recorrer à Justiça, em uma eventual ação por reparação de danos”, conclui.



SHOPPINGS INFORMAM QUE DISPÕEM DE SEGURANÇA

Por meio de nota, o Shopping Paralela informou que a segurança dos clientes, colaboradores e parceiros é prioridade para o centro de compras, que dispõe de equipe especializada, além de equipamentos de monitoramento 24 horas de alta tecnologia nas áreas comuns do estabelecimento.


Também por nota o Shopping da Bahia respondeu que investe constantemente em segurança, treinamentos, cursos com técnicas de abordagem, equipamentos de vigilância, em um trabalho focado na prevenção e inteligência, em parceria com as autoridades.


O Shopping Barra reforçou, ainda em comunicado, que não divulga as ações de segurança, mas informou que dispõe de 200 profissionais, mais de 350 câmeras, além de manter uma política forte de investimentos em tecnologia e recursos humanos.


Por sua vez, o Shopping Piedade informou que “Por razões estratégicas de segurança, não divulga quantitativos e informações que se referem à proteção e preservação dos consumidores”.


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