O governo da França cedeu mais uma vez e, na noite desta quarta-feira (5), anunciou ter estendido por todo o ano de 2019 a promessa de não reajustar a taxa sobre combustíveis que está na raiz de uma onda de protestos com adesão maciça da população nas últimas semanas.

Na véspera, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, havia anunciado a suspensão do aumento do imposto por seis meses, ou seja, até junho do ano que vem.

Não foi suficiente para apaziguar o movimento dos "coletes amarelos" (nome que alude ao acessório usado pelos manifestantes e que a lei obriga todo motorista francês a ter no carro).

Alguns representantes do grupo, que não possui líderes incontestes e se constituiu longe do guarda-chuva de sindicatos e partidos, haviam chamado a moratória de um semestre de migalha e passos de formiga -queixas ecoadas, não sem oportunismo, pelos chefes de fileira da oposição, que defendiam a revogação definitiva da alta da tarifa.

O governo ainda tentará "salvar" a medida durante negociações com administradores locais, associações e os próprios "coletes amarelos" nos próximos meses. O plano inicial era que o novo valor da taxa ajudasse a financiar a transição energética do país para fontes mais limpas.  

O recuo de terça marcou a primeira vez que a gestão Emmanuel Macron, iniciada em maio de 2017, curvou-se a protestos e mobilizações populares. Antes, o presidente conseguira aprovar mudanças na legislação trabalhista e no sistema de transporte ferroviário fazendo ouvidos moucos a opositores das medidas. Agora, a paciência dos franceses com aquele que muitos consideram um chefe de Estado arrogante e elitista parece ter chegado ao fim.

O pacote anunciado na terça por Philippe inclui também o congelamento temporário das tarifas de luz e gás e o abandono provisório do novo formato das vistorias veiculares (que ficariam mais severas).

Nada foi divulgado, entretanto, para contemplar outros itens-chave da cada vez mais extensa lista de reivindicações dos "coletes amarelos", como os pedidos de aumento do salário mínimo (hoje fixado em 1.500 euros) e de revisão da tributação de aposentadorias.

Na quarta, em reunião com seu gabinete, Macron repetiu que não vai reconsiderar a decisão de extinguir o imposto sobre fortunas, uma de suas primeiras como presidente e que a imprensa local vem chamando por estes dias de "pecado original" do mandatário.

Se as cenas de vandalismo e caos vistas no último sábado (1º) no entorno do Arco do Triunfo (e no interior do próprio monumento) se repetirem na quarta jornada de atos, convocada para o próximo fim de semana, ele talvez se veja sem outra opção. 

Com informações da Folhapress
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