Depois do seu desligamento oficial da Secretaria Especial da Cultura, Regina Duarte se despediu do governo e fez um balanço de sua gestão no governo Bolsonaro em um vídeo publicado nesta quinta-feira (11), em sua conta no Instagram. 

De início, ela falou sobre a motivação para o afastamento. "Então, como vocês já devem saber, o presidente Jair Bolsonaro, quando me viu no café da manhã, assim, saudosa dos meus netos e entre tantas outras coisas, onde além de ficar próxima da minha família, eu vou pra São Paulo", disse a atriz, desta vez sem citar a promessa feita anteriormente, de que assumiria a Cinemateca Brasileira. A oferta do presidente está travada e tem grandes chances de não se concretizar, pois a instituição passa por momentos dramáticos. 

No discurso de despedida, Regina falou dos motivos que lhe levaram a assumir a secretaria. “Quando eu aceitei o convite pra vir pra cá, a principal motivação foi sempre, em primeiro lugar, contribuir com a pacificação do setor. Meus objetivos básicos eram ganhar a confiança do governo e com isso reduzir o clima de polaridade reinante na classe artística”, afirmou, destacando que “Cultura combina com pluralidade, não com antagonismo”.

A artista, que encontrou grande oposição dentro do governo e também do setor cultural, demonstrou desconforto com a situação. “A crítica desprovida de argumentos construtivos é uma anomalia que sempre existiu, mas eu acho que precisa ser combatida. Esse bater por bater, que acontece muitas vezes no meio político, é extremamente prejudicial à nação, e mais ainda com quem lida com o fazer cultural. O objeto da cultura é o respeito à pluralidade. É uma atividade que deveria ser vista e tratada num terreno superior, acima da água escura da intolerância política. No meu depoimento da posse, lá atrás, eu já falava disso”, completou. 

Regina Duarte falou ainda das dificuldades enfrentadas por ela, citando a burocracia como maior entrave de sua gestão e destacando o limbo onde a Secult se encontrava entre dois ministérios: Cidadania e Turismo. Em seguida, ela elencou os feitos de sua gestão, como as normativas voltadas para o setor cultural durante a pandemia. “Essas medidas permitiam alterar os prazos dos contratos, prorrogar e renegociar o pagamento de parcelas de débitos, e era disso que os produtores de cultura precisavam naquele momento dramático para ter sossego, para dar esperança aos seus contratados. Isso tudo sem deixar de lado, claro, a exigência dos documentos de prestação de contas”, disse ela. O setor, no entanto, viu como insuficiente e fez duras críticas à ausência de políticas públicas eficazes do governo federal, que inclusive excluiu os profissionais da área da renda emergencial. Diante disto, Câmara dos Deputados e Senado votaram a criação da Lei Emergencial da Cultura, que agora espera pela sanção presidencial. 

Ao final, a ex-secretária agradeceu mais uma vez ao presidente Jair Bolsonaro “pela oportunidade de chegar mais perto de um lugar onde eu jamais pensei estar, Secretaria Especial de Cultura do país! (risos)” e às demais pessoas que lhe apoiaram e incentivaram no cargo. “Saibam todos, que saio da secretaria com o coração irrigado pelo carinho de vocês, contem sempre com minha amizade e desculpa alguma coisa, tá? Não é assim que se fala nas despedidas? Eu ocupei por quase três meses um cargo que exigiu de mim experiência, estratégia e táticas totalmente distantes de tudo pra que eu fui preparada a vida inteira pra fazer. Um enorme desafio. E de repente gestão pública, quem diria na minha vida? É a vida, a vida, essa experiência incrível. Aqui eu tive momentos de dor, de êxtase, tive inseguranças, risos, lágrimas, são troféus que vou levar pro resto da minha vida. Um grande e caloroso abraço a todos”, concluiu.


Por Jamile Amine
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