O comandante do barco que naufragou e deixou 8 mortos na cidade de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador, relatou, nesta quarta-feira (24), que tem sofrido ameaças de morte. Fábio Freitas também reafirmou a versão apresentada pela defesa na terça (23), de que a embarcação foi invadida por passageiros.

Segundo o comandante da embarcação, ele estava curtindo o domingo com a família no mar e parou no píer da Ilha de Maria Guarda para buscar a filha Flaviane Jesus dos Santos, de 29 anos, que estava na festa. Neste momento, a embarcação teria sido invadida.

"Quando encostei, aquele pessoal entrou no barco. Pedi para saírem, porque o barco não era para transporte, mas eles não saíram, se sentaram e eu não tinha como tirar eles do barco", disse Fábio Freitas.

"Eu tinha que tirar o barco do píer e minha alternativa foi tirar o barco e ir embora", completou.

Piloto negou cobrança de passagem

Após o naufrágio, a versão de um sobrevivente era de que a briga que causou o naufrágio do barco pode ter sido causada por causa de um pagamento no valor de R$ 10 pela travessia da Ilha Maria Guarda para Madre de Deus. Fábio Freitas negou a informação.

"Não fretei o barco para ninguém. Nunca fretei, porque ele não é barco para isso".

O comandante da embarcação disse que não sabe ao certo quantas pessoas estavam no barco. No entanto, descartou que tinha cerca de 20 pessoas na embarcação, como chegou a ser cogitado por testemunhas. De acordo com o piloto, todos os passageiros estavam sentados até o início da briga.

"Aconteceu uma briga entre eles, que eu não sei informar o motivo. Pedi para eles, que pelo amor de Deus, parassem com a briga, porque tinham crianças e eu falava para eles pensassem nos filhos deles", explicou.

"Foi todo mundo para um lado só, o barco não aguentou o peso e virou", contou Fábio Freitas.

A versão apresentada por Fábio Freitas foi reforçada pela esposa dele, Sandra, que também estava no barco. A mulher disse que tentou acalmar as pessoas que brigaram, mas não conseguiu evitar o tumulto.

"Quando dei por mim, já estava embaixo d'água, bebi muita água. Meu marido salvou um bocado de gente, inclusive me salvou e fui para o hospital", disse Sandra.

A versão de Sandra difere da apresentada pelo major Diego Pestana, comandante da 10ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Candeias), durante uma coletiva realizada na segunda-feira (22). O oficial informou que o piloto chegou a se apresentar no terminal, mas fugiu.

"Depois de salvar algumas pessoas, ele foi para Salvador acompanhar o corpo da filha", disse a esposa do piloto.

Ameaças de morte

Após o naufrágio, Fábio Freitas e Sandra deixaram a casa onde moravam em Madre de Deus, porque passaram a receber ameaças de morte. A primeira, conforme a mulher, aconteceu ainda no píer do município.

Sandra relata que um dos homens que participou da briga, ao chegar no píer, disse que a filha morreu no naufrágio e, por isso, mataria o piloto da embarcação. "Só que ele [o piloto] também perdeu a filha e o neto dele", lamentou.

Por causa das ameaças, o comandante do barco não teve como acompanhar o velório e sepultamento da filha Flaviane de Jesus e do neto Jonathan Miguel, de 9 anos.

'Não pude ir me despedir dela porque estou sendo ameaçado lá", lamentou o idoso, emocionado.

Na terça-feira (23), a defesa do piloto do barco se apresentou na Polícia Civil e alegou que a embarcação foi invadida por pessoas que estavam no local.

Na oportunidade, o advogado Elder Costa confirmou que o piloto do barco não possui habilitação para conduzir a embarcação.

Nesta quarta, Elder Costa contou que tentou apresentar o cliente na delegacia na terça, mas o delegado Marcos Laranjeiras negou a informação. Disse ainda que os aguarda, caso eles queiram prestar esclarecimentos.

Buscas encerradas

A Marinha do Brasil, por meio do Comando do 2° Distrito Naval, informou que encerrou, na terça-feira (23), as buscas pelos sobreviventes do naufrágio.

As buscas foram finalizadas porque não há mais indícios de desaparecidos. Os corpos da sétima e oitava vítimas do naufrágio foram encontrados por pescadores, também na terça-feira, próximo à Ilha de Maria Guarda, também na região metropolitana.

Elas foram identificadas como Alicy Maria Souza dos Santos, de 6 anos, e Vandersson Epifânio Souza de Queiroz, de 42. Os corpos foram encontrados próximo à Ilha de Maria Guarda, onde aconteceu a festa em que estavam.

De acordo com a Marinha, participaram das buscas 39 militares da MB, um Aviso de Patrulha e uma Lancha de Inspeção Naval Blindada do Grupamento de Patrulha Naval do Leste, três Lanchas de Inspeção Naval e uma Moto Aquática da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA), que coordenou as ações de Busca e Salvamento.

Além disso, também participaram das buscas uma embarcação da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA-PMBA) e uma aeronave do Grupamento Aéreo (GRAER).

O órgão informou que instaurado um Inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) para apurar as causas e circunstâncias do acidente, com prazo de encerramento em até noventa dias.

Concluído o procedimento, os documentos serão encaminhados ao Tribunal Marítimo.

A Polícia Civil investiga se houve excesso de passageiros na embarcação. Ainda não há informações sobre quantas pessoas estavam, de fato, na embarcação, que comportava 10 passageiros e um tripulante.

A Marinha do Brasil tinha informado que a embarcação fazia transporte irregular de passageiros. O veículo "Gostosão FF" é inscrito na classe "saveiro", para uso exclusivo em atividades de esporte ou recreio. Isso significa que o barco não era habilitado para o uso comercial.

A embarcação fazia o trajeto da Ilha Maria Guarda para o município, que fica em uma região turística que registra alto movimento neste período do ano. O naufrágio aconteceu por volta das 22h, quando os passageiros voltavam de uma festa.

Naufrágio

Na noite de domingo, o barco saiu da Ilha de Maria Guarda, na Baía de Todos-os-Santos, em direção ao terminal Marítimo de Madre de Deus, que fica a cerca de 2 km de distância. Antes da metade do caminho, houve uma briga e o veículo naufragou.

Além das oito pessoas que morreram, seis foram levadas para o Hospital Municipal de Madre Deus. Duas já tiveram alta, três foram levadas para Salvador e uma para Lauro de Freitas. Veja abaixo quem são as vítimas feridas:

  • Um menino de 6 anos está internado na UTI pediátrica do Hospital Roberto Santos, em Salvador;
  • Uma menina de 1 ano está internada na UTI pediátrica do Hospital do Subúrbio, em Salvador;
  • Uma mulher de 56 anos está internada na UTI do Hospital Municipal de Salvador;
  • Uma idosa de 83 anos, identificada como Maria Estelita dos Santos de Souza, está internada na UTI do Hospital Metropolitano, em Lauro de Freitas.

Fonte: g1

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