Antes chamado de diabetes insulinodependente, o diabetes tipo 1 (DM1), consiste na deficiência de insulina, que ocorre em razão de dano nas células do pâncreas produtoras de insulina. De acordo com a médica endocrinologista Nathale Prates, este tipo de diabetes acomete mais comumente crianças e adolescentes, mas pode ocorrer na faixa etária adulta.

Estudos recentes apresentam a possibilidade de um surto de diabetes tipo 1 logo após a pandemia do novo coronavírus, que já infectou mais de 11 milhões de pessoas no mundo. Em entrevista ao Portal A TARDE, a endocrinologista Nathale Prates explica que além da susceptibilidade genética, as infecções virais têm sido implicadas como causa/gatilho para o desenvolvimento da destruição autoimune do pâncreas.

“Anticorpos específicos do DM1 têm sido identificados meses a anos após infecções virais. Assim, o DM1 pode surgir tempos depois, levando à dificuldade de reconhecer a infecção viral como gatilho. Contudo, evidências da relação entre coronavírus e diabetes datam da pandemia de sars-cov em 2003, quando pacientes não-diabéticos, sem uso de corticóide e com leve doença respiratória apresentaram hiperglicemias, reforçando a hipótese de dano agudo às células beta como consequência do ciclo replicativo viral no pâncreas endócrino”, esclarece ela.

Segundo o estudo TEDDY, realizado em 2017, houve um aumento do risco de autoimunidade contra células beta em um grupo de 87.327 pacientes com infecção respiratória recente. Cerca de 5.8% destes pacientes desenvolveram autoimunidade pancreática duradoura, com um ou mais anticorpos do DM1, aparecendo após 9 meses da infecção respiratória.

“A destruição autoimune das células beta pancreáticas (produtoras de insulina) deflagrada pelas infecções virais pode ter vários mecanismos: o dano direto pelo vírus em seu ciclo de replicação, o dano inflamatório pela resposta imune agressiva ao vírus, a apresentação de antígenos ocultos das ilhotas e epítopos das células beta nos linfonodos regionais (locais onde residem células inflamatórias), e a chamada reação cruzada, em que epítopos virais semelhantes aos auto-antígenos do paciente (ao que se denomina mimetismo molecular) determinam a formação de anticorpos contra as células beta que continuam a ser produzidos após a infecção viral ser curada”, relata a médica.

No entanto, a endocrinologista afirma que “estudos futuros serão necessários para investigar o papel causal da pandemia de Covid-19 no surgimento de DM1. Ademais, os profissionais de saúde devem estar cientes desta situação, dando mais atenção aos indivíduos com predisposição a autoimunidade”.

A Tarde
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