Dados aumentam pressão sobre Governo em momento de forte cobrança de investidores estrangeiros por ação mais efetiva contra a destruição da floresta. 

O desmatamento na Amazônia brasileira cresceu pelo 14º mês consecutivo em junho, segundo dados preliminares publicados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aumentando a pressão sobre o Governo de Jair Bolsonaro em um momento em que investidores estrangeiros e empresários passam a cobrar do presidente uma ação mais efetiva contra a destruição da floresta. Mesmo com uma ação de militares na região desde maio para evitar queimadas e tentar conter a destruição, a Amazônia registrou 1.034,4 km² de área sob alerta de desmatamento em junho, alta de 10,65%, recorde para o mês em toda a série história, que começou em 2015.

No acumulado do semestre, os alertas do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) indicam devastação em 3.069,57 km² da Amazônia, equivalente a duas vezes a área da cidade de São Paulo. Comparado ao mesmo período do ano passado, o aumento é de 25%. Os dados servem de indicação às equipes de fiscalização sobre onde pode estar acontecendo o crime ambiental. Os números não representam a taxa oficial de desmatamento, que é medida anualmente por outro sistema.No início do mês, o Inpe já havia revelado que a Amazônia registrou em junho o maior número de focos de incêndio dos últimos 13 anos.

Em meio ao aumento do desmatamento, pesquisadores e ativistas ambientais acusam o Governo de dar poder a madeireiros ilegais, fazendeiros e grileiros de terra ao enfraquecer as agências de fiscalização ambiental e defender o aumento da mineração e do agronegócio na Amazônia como forma de desenvolvimento da economia na região. O Ministério Público Federal (MPF) pede o afastamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por crime de improbidade administrativa. “Mesmo que não se queime nenhum metro quadrado na atual temporada de fogo que vai até setembro – como espera o vice-presidente da República Hamilton Mourão ao propor novamente a moratória das queimadas na Amazônia Legal este ano –, o maior estrago já foi feito”, diz o diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil, Edegar Rosa.

Pressão de fundos internacionais

A pressão dos investidores estrangeiros e do empresariado brasileiro fez com que o Governo reagisse com uma tentativa de fazer um controle maior do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Desde maio, sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, foi autorizada uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) com as Forças Armadas na Amazônia para evitar queimadas e tentar conter o desmatamento, até agora sem muito sucesso. A GLO, que se encerraria nesta sexta-feira, foi prorrogada até novembro, de acordo com decreto publicado no Diário Oficial da União.

No fim de junho, mais de 30 gestoras de investimentos internacionais, que mobilizam 4,5 trilhões de reais, enviaram carta à embaixadas brasileiras alertando incerteza generalizada sobre as condições para investir ou oferecer serviços financeiros no Brasil em consequência do aumento do desmatamento na Amazônia.

Diante da pressão estrangeira, o Governo marcou uma reunião por videoconferência com representantes dos fundos, na última quinta-feira, comandada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, responsável pelo Conselho Nacional da Amazônia. Após o encontro virtual, foi anunciado um novo decreto, a ser publicado na próxima semana, proibindo por 120 dias as queimadas autorizadas na Amazônia e no Pantanal. O vice-presidente brasileiro admitiu a necessidade de combater ilegalidades na Amazônia, mas defende, assim como Bolsonaro, que há um exagero na percepção sobre destruição da região. “A floresta está em pé, muitos colocam que a floresta está queimando”, disse.

No início do mês, em discurso na Cúpula do Mercosul, o mandatário brasileiro já tinha reclamado de “visões” no exterior que, segundo o seu entendimento, são “distorcidas” e não refletem o real esforço do Governo, sobretudo em temas como a defesa da região amazônica e o relacionamento com povos indígenas.

Entre 1º de janeiro e 25 de junho, o Ipam e o centro de pesquisa norte-americano Woods Hole calcularam que o desmatamento e as queimadas na Amazônia liberaram na atmosfera 115 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, cerca de 20% a mais do que no mesmo período do ano passado, o que equivale às emissões anuais de 25 milhões de carros. 

El País (Com agência Reuters)
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