Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, é a cidade com a menor taxa de vacinação entre as que mais receberam doses do primeiro lote da Coronavac (saiba mais aqui). A cidade tem atualmente mais de 5 mil casos de Covid-19 confirmados - número que ultrapassa 14 mil quando considerados os suspeitos por critério clínico -, e enfrenta uma alta na contaminação após registrar dezenas de festas ilegais com aglomerações no final do ano.

Segundo levantamento obtido pelo Bahia Notícias, Porto Seguro é a quarta cidade que recebeu mais doses da Coronavac: foram 4.627. Porém, apenas 460 tiveram a vacinação registrada pelo sistema do Ministério da Saúde até o momento, número que equivale a menos de 10% do total entregue ao município. Em uma publicação feita ontem nas redes sociais, a prefeitura afirma que já vacinou 756 pessoas: 29 idosos em casas de repouso, 386 profissionais de saúde e 341 indígenas aldeados. Ainda assim, seria um aproveitamento apenas de pouco mais de 16% das doses da Coronavac enviadas.

Para efeito de comparação, Vitória da Conquista recebeu pouco mais de 4 mil doses e já imunizou 2.363 pessoas, o equivalente a 58% do público alvo desse primeiro lote. Mesmo na cidade vizinha a Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, que tem uma população consideravelmente menor, foi registrada a vacinação de 701 pessoas.

Apesar da demora no processo, funcionários do principal hospital público da cidade, o Hospital Regional Deputado Luís Eduardo Magalhães, foram informados de que nem todos os servidores receberiam a vacina do primeiro lote porque não havia imunizantes suficientes.

DEFESA DA CLOROQUINA E RECEIO COM VACINAS

Ao receber o primeiro lote da Coronavac, o prefeito Jânio Natal posou ao lado da secretária municipal de Saúde, Raissa Soares, comemorando "a tão esperada vacina contra a Covid-19". Porém, a comemoração destoou do que foi até defendido pela própria secretária.

Apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, Raissa ficou conhecida como uma das principais defensoras do uso de hidroxicloroquina no "tratamento preventivo" do novo coronavírus, apesar de não haver qualquer comprovação científica de eficácia do remédio. Em julho de 2020, o presidente chegou a anunciar a chegada de um lote de 40 caixas em Porto Seguro, e agradeceu pelo pedido da médica (veja mais aqui).

Em uma entrevista concedida recentemente, Raissa garantiu que apoiaria as vacinas que tivessem a autorização da Anvisa - o que já aconteceu no caso das doses da Coronavac e da de Oxford. O problema é que as informações usadas para defender seu ponto de vista não eram verídicas. Ela chegou a dizer que pessoas morreram tomando as vacinas durante os testes - o que não havia ocorrido até o momento da entrevista - e que "ninguém morreu com o tratamento precoce da Covid". 

Ela ainda defendeu que as vacinas que usam a base de RNA - da Pfizer e da Moderna - podem gerar doenças genéticas em pessoas sadias. "Eu corro o risco de pegar uma população sadia e adoecê-la, porque a gente não sabe o que vai acontecer". Raissa citou também, na mesma entrevista, que houve registro de "complicões" dos imunizantes contra a Covid-19 como Guillain-Barré, mielite e síndrome de Kawasaki em crianças.

Na verdade, os testes da vacina de Oxford chegaram a ser paralisados porque um dos voluntários desenvolveu mielite, mas os especialistas posteriormente descartaram que houvesse qualquer relação com o estudo. Já a síndrome de Kawasaki foi registrada de fato, mas em crianças que foram contaminadas pela Covid-19, não por quem tenha tomado a vacina. Também não há nenhuma comprovação científica de que os imunizantes aumentes as chances de desenvolver a Guillain-Barré.

AGLOMERAÇÕES

Também apoiador de Bolsonaro, Jânio Natal foi um duro crítico às ações restritivas tomadas pela prefeita anterior, Cláudia Oliveira. No fim do ano, ele gravou um vídeo dizendo que tomaria posse à meia noite do dia 1º de janeiro para garantir de liberaria festas para milhares de pessoas no Réveillon.

Mesmo com o decreto do governo do estado proibindo qualquer festa, pública ou privada, independente do número de pessoas, a cidade teve mais casos de reuniões ilegais encerradas pela Polícia Militar. Das 104 ocorrências entre os dias 28 de dezembro e 3 de janeiro em todo o estado, 62 foram em Porto Seguro, a maior parte no distrito de Trancoso (leia aqui). Uma delas foi registrada inclusive na casa da cantora Elba Ramalho - que havia alugado a residência para uma outra pessoa, responsável pelo evento (entenda aqui).

POUCOS LEITOS

Porto Seguro tem hoje apenas 8 leitos de UTI voltados para o tratamento da Covid-19, enquanto a cidade vizinha de Eunápolis, que fica a 62 km, tem outras 20 vagas. Atualmente, a ocupação destes leitos é de 82%, restando cinco disponíveis. Porém, informações obtidas pelo Bahia Notícias apontam que a cidade já chegou a ter fila de espera para quem havia desenvolvido os sintomas mais graves da doença, ou até para quem precisava ser estabilizado antes da transferência para outras cidades.

Fontes: Bahia Notícias

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