Profissionais da Saúde e Educação, além de gestores, afirmam que o atual cenário da pandemia do novo coronavírus no estado impossibilita o retorno das aulas presenciais, ao comentarem sobre o assunto.

Segundo o levantamento, 58,3% dos responsáveis por estudantes matriculados nas redes pública e particular são contra a volta das atividades nas escolas, enquanto 37,4% se posicionaram a favor.

O médico Fábio Amorim reforça que a probabilidade de uma criança com Covid-19 evoluir para um quadro grave da doença é muito menor do que um adulto, mas defende que ela "está inserida em um nicho social com pessoas vulneráveis". "A minha preocupação em relação ao retorno está relacionada aos professores, àquela 'tia', ao porteiro, o pessoal da higienização", exemplifica o infectologista.

Para Amorim, planejar uma volta às aulas presenciais diante do cenário atual seria "uma insanidade". "Não dá para dizer que o sistema está em colapso, mas está em vias disso. A fila de espera, a forma como está se dando...acho que a gente ainda vai passar por momentos terríveis", afirma.

A infectologista Clarissa Ramos concorda com a impossibilidade de reabrir as escolas agora, mas acredita que os governos perderam "o timing" no ano passado. "No momento em que estamos, não tem como abrir escola. Em agosto ou setembro, as coisas estavam mais controladas", diz, ao destacar o prejuízo às crianças e adolescentes causado por um ano sem aulas presenciais.

A médica lembra que, como as escolas "refletem" as comunidades nas quais estão inseridas, uma reabertura teria como consequência o crescimento de casos da Covid-19 entre os frequentadores das unidades de ensino.

Ela defende, entretanto, que os governos estabeleçam critérios claros para definir o retorno, como os percentuais de leitos ocupados. "A gente não sabe quando a pandemia vai acabar. Vai ficar o ano inteiro sem aulas? Só vai reabrir quando zerar? Então, não vai abrir nunca", avalia.

Recentemente, o governador Rui Costa afirmou que, para a volta das aulas, precisa haver queda de três indicadores: o número de casos ativos, a quantidade de óbitos registrados por dia e as taxas de ocupação de leitos. No entanto, não foi especificado nenhum número.

Na última semana, antes de ser internado com Covid-19, o secretário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, disse que os números impuseram uma mudança. "Sobre o retorno das aulas presenciais na Bahia, o governador Rui Costa, as secretarias de Saúde e de Educação estão bem alinhados. Há duas semanas, eu estava defendendo o retorno das aulas, mas é preciso entender que o cenário mudou de uma hora para a outra. Vínhamos com uma média de 30 óbitos confirmados diariamente e esse número saltou para 60. Fora isso, temos uma centena de óbitos em investigação, que devem puxar esse número ainda mais para cima", pontuou.

O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Eures Ribeiro, participava da discussão do protocolo de retorno das aulas. "No meio da discussão, o quadro se agravou. Há 15 dias, não havia um comprometimento dos leitos tão grande como hoje. Estávamos animados em fazer o retorno de forma híbrida, com redução das turmas. Isso estava muito bem adiantado, mas hoje não temos como sonhar com um retorno das aulas, ficou inviável", diz.

Por outro lado, acrescenta Eures, os prefeitos estão muito preocupados com o tempo sem aulas. "Um ano sem escola é um prejuízo enorme para uma geração. Sem escola, você perde uma referência", afirma.

Para o presidente da APLB Sindicato, Rui Oliveira, a pesquisa "mostra claramente que a maioria da população baiana é contra o retorno de aulas presenciais nesse momento". "Estamos em uma fase de alto índice de contaminação, aumentando consideravelmente o número de óbitos. Agora é hora de não deixar circular, não podemos ficar olhando só para o nosso umbigo", diz.

Segundo o dirigente, em uma consulta feita pelo sindicato a 13 mil professores, 97% disseram que só voltariam às salas de aula vacinados. O sindicalista classifica como "uma luz no fim do túnel" o anúncio feito a prefeitos pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, da inclusão de professores entre os grupos prioritários da vacinação.

O coordenador geral do Sindicato dos Professores do Estado da Bahia (Sinpro), Alysson Mustafa, considera "até baixo" o percentual dos responsáveis por estudantes contrários à retomada das atividades presenciais na escolas. "Houve uma pressão muito grande nas últimas duas ou três semanas, inclusive por causa da questão judicial. Isso termina impactando", avalia, ao comentar as liminares, derrubadas posteriormente, que determinavam o retorno das aulas até 1º de março.

"O Sinpro é contra esse retorno enquanto estivermos com a condição que estamos agora. A situação se agravou e a gente compreende que, enquanto não houver uma vacina, não tem uma segurança sanitária que nos permita voltar para a sala de aula em função das nossas especificidades, como a grande quantidade de tempo que ficamos em contato com os estudantes", completa Mustafa.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou que, conforme levantamento da pasta, 33% dos alunos da rede municipal não possuem acesso a banda larga. De acordo com a pesquisa A TARDE/Potencial, 23,7% dos pais de alunos de escolas públicas municipais disseram que não havia condição nenhuma de ter aula online em casa. Este foi o percentual mais alto, comparado com a situação de estudantes de estabelecimentos particulares (11%) e da rede estadual (18,3%). "Além disso, algumas famílias que atendemos possuem um aparelho que é compartilhado por toda a família. Essas questões geram dificuldade no acesso às aulas online. Por essa razão, disponibilizamos as aulas pela TV com as atividades impressas. A TV é um equipamento que possui um acesso muito maior por parte das famílias dos nossos alunos", afirmou a secretaria, sobre a estratégia adotada. As aulas remotas da rede municipal foram iniciadas ontem.

A Smed renovou a parceria com a TV Aratu para manutenção dos canais 4.2 e 4.3, utilizados para veicular as teleaulas no ano passado. Além disso, firmou convênio com a Câmara Municipal de Salvador para inserir mais um canal digital ao Nossa Rede na TV, nesse caso o 12.3.

A Secretaria de Educação do Estado (SEC) não se manifestou sobre a pesquisa. Procurados, representantes de escolas particulares não retornaram as ligações da reportagem até o fechamento.

Fonte: A Tarde

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