Dez pessoas de uma mesma família palestina, incluindo oito crianças, foram mortas neste sábado (15) em um bombardeio israelense na Faixa de Gaza, informaram fontes médicas. Um bebê de cinco meses sobreviveu.

Além disso, um prédio de 12 andares na Faixa de Gaza que abriga os escritórios da Associated Press (AP), dos Estados Unidos, e da emissora Al Jazeera, do Catar, desabou neste sábado, após ser atingido por mísseis israelenses, informaram as agências Reuters e France Presse.

Um jornalista palestino foi ferido no ataque, informou a mídia palestina, e destroços e estilhaços voaram a dezenas de metros de distância.

Jawad Mehdi, proprietário do edifício Jala, afirmou que um oficial da inteligência israelense o avisou antes do ataque que ele tinha uma hora para evacuar o prédio. Ele solicitou 10 minutos adicionais para os repórteres embalarem seus equipamentos, mas teve o pedido recusado, segundo a France Presse.

"Um ataque israelense destruiu o prédio que abrigava os escritórios da AP em Gaza", disse Jon Gambrell, jornalista da agência de notícias, no Twitter. "O Exército avisou o proprietário do prédio onde fica o escritório da AP que o local seria alvo de um bombardeio", escreveu pouco antes do ataque.

Outro jornalista da AP, que pediu para não ser identificado, disse que todos os funcionários estavam bem, mas em estado de choque.

O Exército israelense declarou que equipamentos militares do Hamas estavam na torre atingida por seus caças. "O prédio também abrigava escritórios de veículos de comunicação civis, atrás dos quais o grupo terrorista Hamas se esconde e que usa como escudos humanos", acrescentou o Exército, alegando ter alertado os civis antes do ataque e "ter lhes dado tempo suficiente".

A rede de televisão Al Jazeera confirmou no Twitter que seus escritórios ficavam no prédio e transmitiu ao vivo as imagens da torre desabando e sendo reduzida a uma montanha de escombros. O edifício também tinha vários apartamentos e outros escritórios.

"É claro que foi decidido não apenas causar destruição e mortes, mas também silenciar aqueles que são testemunhas", reagiu à AFP Walid al-Omari, chefe do escritório da Al Jazeera em Israel e nos Territórios Palestinos.

"Continuaremos nossa cobertura de notícias apesar da destruição (...) Voltaremos ao ar com novos equipamentos", garantiu Safwat al-Kahlout, correspondente do canal em Gaza.

O diretor geral interino da Al Jazeera, Mostefa Souag, chamou o ataque de "bárbaro" e disse que Israel deveria ser responsabilizado. “O objetivo deste crime hediondo é silenciar a mídia e ocultar a carnificina e o sofrimento incontáveis do povo de Gaza”, disse ele em um comunicado.

O porta-voz militar israelense, Jonathan Conricus, rejeitou a ideia de que Israel estava tentando silenciar a mídia. "Isso é totalmente falso, a mídia não é o alvo", disse à Reuters.

Conricus chamou o prédio de um alvo militar legítimo, dizendo que continha inteligência militar do Hamas. Ele disse que o Hamas pode ter calculado que, ao colocar seus "ativos" dentro de um prédio com escritórios de notícias, 'eles provavelmente esperavam que isso os mantivesse a salvo de ataques israelenses".

Questionado sobre o motivo da destruição de todo o prédio, Conricus disse: "Não havia como derrubar apenas as instalações do Hamas que estavam no prédio. Eles ocuparam vários andares do prédio e era impossível derrubar apenas esses andares. Foi considerado necessário para demolir todo o edifício. "

A agência de notícias americana AP declarou estar "chocada e horrorizada" com o ataque israelense. "Este é um acontecimento incrivelmente perturbador. Nós evitamos por pouco uma terrível perda de vidas", disse o chefe da agência, Gary Pruitt, em um comunicado. “O mundo ficará menos informado sobre o que está acontecendo em Gaza por causa do que aconteceu hoje”, acrescentou.

O governo dos EUA informou que disse a Israel para garantir a segurança dos jornalistas. "Comunicamos diretamente aos israelenses que garantir a segurança dos jornalistas e da mídia independente é uma responsabilidade primordial", tuitou a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.

Rashida Tlaib, membro democrata da Câmara dos Deputados dos EUA e filha de imigrantes palestinos, acusou Israel no Twitter de mirar na mídia para que "o mundo não veja palestinos sendo massacrados".

Bebê de 5 meses sobrevive

Dez pessoas de uma mesma família palestina, incluindo oito crianças, foram mortas neste sábado em um bombardeio israelense na cidade de Gaza, segundo fontes médicas palestinas.

O ataque atingiu a casa da família Abu Hatab, no campo de refugiados de Al-Shati. O prédio de três andares em que estavam desabou após o bombardeio.

A mãe e seus quatro filhos - com entre 5 e 15 anos - morreram. Quatro primos - com entre 8 e 14 anos - e sua mãe, que os visitavam por ocasião do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã, também morreram.

Os dois pais, Aala Abu Hattab e Mohamad Al Hadidi, que estavam do lado de fora do prédio, sobreviveram, assim como um bebê de cinco meses, que foi hospitalizado. A criança sobreviveu porque a mãe se fez de "escudo humano" para protegê-la.

As crianças "estavam seguras em casa, não carregavam armas, não disparavam foguetes", disse Mohammad Al Hadidi. "Usavam roupas novas para o Eid al-Fitr".

O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, denunciou em um comunicado "um massacre hediondo no campo de Al-Shati".

O Exército israelense, por sua vez, anunciou que atacou "um certo número de líderes" do Hamas em um apartamento na área do campo de Al-Shati. E afirmou que "toma todas as precauções possíveis para evitar afetar civis" durante a suas operações, acusando o Hamas de usar "deliberadamente" civis como "escudo" para se proteger.

"As crianças continuam a ser vítimas desta escalada assassina. Repito que as crianças não devem ser alvo de violência ou colocadas em perigo", reagiu no Twitter Tor Wennesland, enviado da ONU para o Oriente Médio.

Ataques prosseguem

Israel atingiu a Faixa de Gaza com ataques aéreos e militantes palestinos lançaram foguetes em Tel Aviv e outras cidades neste sábado. Diplomatas americanos e árabes procuram acalmar a situação, porém, ainda sem sucesso.

Durante a madrugada, militantes palestinos dispararam cerca de 200 foguetes contra cidades israelenses, e aviões de Israel atingiram o que seriam alvos usados pelo Hamas, o grupo islâmico que comanda Gaza.

Pelo menos 139 pessoas, incluindo 39 crianças, foram mortas em Gaza desde o início do conflito na segunda-feira (10), informaram médicos palestinos. Já Israel registrou 10 mortos, incluindo duas crianças. No saldo de feridos, são 1.000 palestinos e 560 israelenses.

O bombardeio israelense matou durante a noite de sexta e madrugada de sábado mais de 15 palestinos em Gaza, disseram médicos, incluindo a família palestina.

Os militares israelenses disseram neste sábado que cerca de 2.300 foguetes foram disparados de Gaza contra Israel desde segunda-feira, com cerca de 1.000 interceptados por defesas antimísseis e 380 caindo na Faixa de Gaza.

Sirenes soaram repetidamente em Tel Aviv neste sábado e milhares de israelenses correram para se abrigar. Um foguete atingiu um prédio residencial no subúrbio do centro comercial de Ramat Gan, matando uma pessoa, disseram médicos.

Em Gaza, Akram Farouq, 36 anos, saiu correndo de sua casa com sua família depois que um vizinho disse a ele que havia recebido uma ligação de um oficial israelense avisando que seu prédio seria atingido.

“Não dormimos a noite toda por causa das explosões e agora estou na rua com minha esposa e filhos, que estão chorando e tremendo”, disse.

Os militares israelenses disseram que sua aeronave atingiu locais de lançamento de foguetes e apartamentos de militantes do Hamas.

Os israelenses aprenderam a mergulhar para se proteger a qualquer hora do dia e da noite. Na cidade costeira de Ashdod, em Israel, Mark Reidman avaliou os danos causados ao seu prédio por um foguete. “Queremos viver em paz e sossego”, disse o homem de 36 anos, acrescentando que teve de tentar explicar aos seus três filhos pequenos o que está acontecendo.

O Hamas lançou foguetes na segunda-feira (10) após tensões sobre um processo judicial para despejar várias famílias palestinas de Jerusalém Oriental e em retaliação aos confrontos da polícia israelense com palestinos perto da mesquita de al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã.

As hostilidades entre Israel e Gaza foram acompanhadas por violência nas comunidades mistas de judeus e árabes de Israel. Sinagogas foram atacadas, lojas de propriedade de árabes foram vandalizadas e ocorreram brigas de rua. As baixas palestinas também se estendem além de Gaza.

Os palestinos, que a cada ano em 15 de maio marcam o "Dia da Catástrofe" - seu deslocamento na guerra de 1948-1949 que acompanhou a criação de Israel -, relataram 11 mortes nesta semana na Cisjordânia ocupada, depois que manifestantes e forças israelenses entraram em confronto.

Em busca do cessar-fogo

Os esforços diplomáticos regionais e internacionais ainda não mostraram sinais de interrupção das hostilidades. O Egito, que tem liderado esforços regionais, enviou ambulâncias através de sua fronteira com Gaza para levar vítimas palestinas aos hospitais egípcios.

Hady Amr, subsecretário adjunto para Israel e Assuntos Palestinos, enviado do presidente dos EUA, Joe Biden, chegou a Israel na sexta-feira, antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU no domingo.

A Embaixada dos Estados Unidos disse em um comunicado que o enviado pretendia "reforçar a necessidade de trabalhar por uma calma sustentável".

O Egito está pressionando por um cessar-fogo para que as negociações possam começar, disseram duas fontes de segurança egípcias na sexta-feira. Cairo tem apoiado o Hamas e pressionado os Estados Unidos para garantir um acordo com Israel.

"Os mediadores do Egito, Catar e das Nações Unidas estão intensificando seus contatos com todos os lados em uma tentativa de restaurar a calma, mas um acordo ainda não foi alcançado", disse uma autoridade palestina na sexta-feira.

Os Emirados Árabes Unidos pediram um cessar-fogo e negociações na sexta-feira, oferecendo condolências a todas as vítimas.

Em setembro, os Emirados Árabes Unidos e Bahrein se tornaram os primeiros Estados árabes em um quarto de século a estabelecer laços formais com Israel.

Fonte; G1

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