Pesquisadores das universidades Yale, da Carolina do Norte e de Sydney identificaram um paciente infectado pelo novo coronavírus por 471 dias. O homem de 60 anos, em tratamento contra leucemia linfocítica e câncer no sistema linfático, recebeu teste positivo para Covid pela primeira vez em novembro de 2020 e até março deste ano o vírus Sars-CoV-2 ainda era detectado em seu organismo.

A pesquisa foi compartilhada na plataforma medRxiv. O estudo ainda não foi analisado por outros cientistas da área e aprovado para publicação. Ele caracteriza um único caso e não avaliou a atuação do sistema imune do paciente, que apresentou sintomas leves durante os primeiros dias de infecção e depois permaneceu assintomático.

O trabalho aponta que, durante a infecção prolongada, mutações do vírus no organismo do paciente levaram ao surgimento de três linhagens diferentes e coexistentes.

A publicação indica ainda uma taxa de 35 substituições de partes do material genético por ano, aproximadamente duas vezes maior do que a estimativa da média global. Por causa desse índice, os cientistas sinalizam que infecções crônicas e não tratadas do Sars-CoV-2 podem acelerar a evolução do vírus e, em última análise, favorecer o surgimento de variantes mais transmissíveis.

"Nosso estudo fornece evidências de que infecções crônicas por Sars-CoV-2 podem ser uma fonte para o surgimento de variantes geneticamente diversas capazes de causar futuros surtos de Covid-19", afirmam os pesquisadores.

Estudos anteriores apontaram infecções crônicas pelo novo coronavírus em pacientes com imunidade comprometida, como pessoas com câncer, doenças autoimunes e HIV avançado, e a pesquisa busca contribuir para a melhor compreensão desse fenômeno.

Para monitorar a infecção do paciente, o grupo formado por 26 cientistas analisou 30 amostras coletadas pelo método RT-PCR a partir do 79o dia de infecção. Eles fizeram então o sequenciamento genético e identificaram três linhagens do vírus.

A primeira foi a mais encontrada nos swabs nasais entre os dias 79 e 247 da infecção, mas a partir do dia 281 a dominância variou entre ela e outros dois genótipos do vírus, indicando a coexistência de três linhagens.

Os pesquisadores avaliaram as diferenças entre cada uma e constataram uma taxa elevada de modificações do vírus, um nível não reportado em casos de infecção aguda.

Eles recomendam o monitoramento ativo de indivíduos imunocomprometidos para identificar potenciais infecções crônicas precocemente e reforçam a necessidade da aplicação de vacinas. Também ressaltam a importância do investimento contínuo para pesquisa e desenvolvimento de vacinas capazes de proteger de futuras variantes.

Por Stefhanie Piovezan / Folhapress

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