A Justiça baiana determinou a conversão de prisões temporárias em preventivas e decretou novas prisões contra dezenas de investigados na Operação Anátema, que desarticulou um esquema de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e comércio ilegal de armas ligado à facção Bonde do Maluco (BDM), na Bahia.
A decisão, obtida pelo BNEWS, foi assinada pelo juiz Waldir Viana Ribeiro Junior, da Vara Criminal de Salvador, no último dia 26 de novembro. De acordo com os relatórios de inteligência financeira reunidos pela investigação, a facção movimentou cifras que ultrapassam R$ 4,3 bilhões.
Prisões decretadas
Entre os nomes citados na decisão estão operadores financeiros, empresários de fachada e integrantes diretamente ligados à logística de drogas e armas, todos apontados como peças-chave da engrenagem criminosa do BDM.
- Conversão da prisão temporária em preventiva de 11 investigados, incluindo o líder Fábio Souza Santos (“Geleia”), sua companheira Nancy Simões Souza, responsável pela coordenação financeira e logística, e Joice Santos Simões, que também atuava na gestão de capital e entorpecentes.
Decretação de prisão preventiva de outros 22 acusados, entre eles:
- Rafael Santos Mascarenhas e Tiago Santos Barbosa, apontados como operadores financeiros, responsáveis por depósitos fracionados e movimentação de numerário.
- Hoberdan Francis Silva, Ademário de Souza Santiago Júnior e Adenilde Portella Borges, identificados como empresários de fachada, cujas empresas movimentaram cifras milionárias sem lastro fiscal.
- Salaciel Leal de Araújo, ligado à logística e às práticas de tortura usadas como disciplina interna da facção.
- Shadia Samir Abou Arabi e Gladys Ester Acosta Amarilla, acusadas de manter a rede de lavagem de capitais na fronteira com o Paraguai para custear a fuga dos líderes.
A operação Anátema já havia resultado na prisão do vereador Leonardo Mascarenhas, de Santo Estêvão (União Brasil), acusado de utilizar um posto de combustíveis para lavar dinheiro oriundo do tráfico. No entanto, o nome do parlamentar não aparece nesta decisão específica, que concentrou-se em líderes da facção, operadores financeiros e empresários de fachada.
Estrutura criminosa revelada
De acordo com a decisão, a investigação aponta a existência de uma organização criminosa hierarquizada, liderada por Fábio Souza Santos, conhecido como “Geleia”, e Nancy Simões Souza, ambos apontados como chefes da facção e atualmente foragidos no Paraguai. O grupo se dividia em núcleos operacional, financeiro, logístico e político, com clara divisão de tarefas para a prática reiterada de crimes graves.
Relatórios de inteligência financeira e análises bancárias e fiscais revelaram movimentações incompatíveis com rendas lícitas, envolvendo dezenas de milhões de reais em contas de pessoas físicas e empresas de fachada, como salões de beleza, postos de combustíveis e lojas de roupas infantis, além de contas bancárias de laranjas para dar aparência de legalidade aos recursos oriundos do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas. Uma das empresas citadas teria movimentado mais de R$ 500 milhões em curto período sem lastro fiscal.
Violência e “Tribunal do Crime”
Além dos crimes financeiros, a decisão destaca provas de tortura cometida por integrantes da facção como forma de disciplina interna e coerção contra devedores. Vídeos e áudios extraídos de nuvens digitais mostram o uso de violência extrema, caracterizando o funcionamento de um verdadeiro “Tribunal do Crime”.
O magistrado ressaltou que a facção mantém armamento de grosso calibre, incluindo pistolas e fuzis, e que a liberdade dos acusados representaria grave risco à ordem pública, à instrução criminal e à aplicação da lei penal.
Risco de fuga e intimidação
A decisão também aponta que os líderes da facção utilizam uma rede de lavagem de capitais na fronteira com o Paraguai para custear a evasão, o que reforça o risco concreto de fuga e evasão de divisas. O juiz destacou ainda o potencial de intimidação de testemunhas e destruição de provas caso os réus permaneçam em liberdade.
Fonte: Bnews

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