O Brasil é conhecido como o país do futebol, mesmo com outros esportes sendo inseridos e praticados pelos brasileiros. A soberania do futebol limita a visibilidade de outras modalidades - convencionais ou adaptadas para atletas com deficiência. Na Bahia, os esportes alternativos ganham novos adeptos, mas ainda buscam o reconhecimento e o investimento necessários para se popularizarem entre os baianos.

O atleta Rafael Cerqueira, de 23 anos - atual cornerback do Santana Red Bulls, time de Feira de Santana -, apaixonou-se pelo futebol americano ainda na adolescência. “Por volta de 2013 comecei a assistir o Super Bowl (final da principal liga americana de futebol americano) mas, em 2016, me interessei em acompanhar a temporada inteira. Toda segunda, quinta e domingo eu estava na frente da televisão”, conta.

Assistir assiduamente as partidas fez Rafael sonhar em ser um jogador de futebol americano. “Esse interesse me fez imaginar um dia jogar aqui no Brasil. Em 2017, eu fiz a seletiva do Santana Red Bulls, fui aprovado e estou lá até hoje”, explica o atleta, que também é diretor de comunicação da equipe feirense.

O crescimento do futebol americano na Bahia é barrado pelas dificuldades, que vão desde problemas financeiros até o preconceito com o esporte. Rafael destaca que, atualmente, vários times no Brasil não conseguem montar comissões técnicas com profissionais capacitados, o que dificulta a aquisição de novos patrocínios, equipamentos específicos ou até um local para as equipes treinarem.

“O esporte não se desenvolve por muitos fatores, como os financeiros por exemplo. Hoje, nós ainda treinamos no ‘terrão’, o que dificulta o crescimento. Há também as pessoas que acham que o esporte é só pancadaria. É um esporte de contato, mas os atletas estão equipados. O preconceito impede que as pessoas enxerguem que é um jogo muito inteligente e também exige estratégia”.

Para o jogador, o esporte tende a crescer e é preciso usar atalhos para aproximar novos fãs. “Nossos ingressos custam R$ 10, e crianças até 12 anos não pagam, para tentar atrair o público. O esporte está se democratizando, os times têm crescido e, à medida que as equipes se tornam mais conhecidas e fortes, a estrutura para o futebol americano vem como consequência”, pontua Rafael.

Para os interessados no futebol americano, no próximo sábado, 10, o Santana Red Bulls disputa a grande final da Copa do Nordeste contra o Bulls Potiguares, do Rio Grande do Norte, às 18h, no estádio Joia da Princesa. Os ingressos custam R$ 10 e podem ser comprados no Shopping Bulevard, em Feira de Santana, ou pedidos através do perfil no Instagram do clube feirense. O campeão da Copa do Nordeste garante vaga no Brasil Futebol Americano 2 (BFA 2) do ano que vem.

Basquete adaptado

O basquete em cadeira de rodas tem forte presença na história do movimento paralímpico. Foi a primeira modalidade disputada aqui no Brasil, em 1958. O esporte paralímpico mais praticado terá, a partir do dia 23 de agosto, os representantes da seleção brasileira de basquete adaptado, masculino e feminino, nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, realizado na cidade de Lima, no Peru.

Apesar do reconhecimento olímpico, a realidade dos clubes baianos de basquete adaptado para atrair o público passa pelas dificuldades impostas a um paratleta, o que influencia no desenvolvimento do esporte no estado. É o que explica Cleuma Gonzales, de 37 anos, armadora da equipe feminina de basquete em cadeira de rodas da Associação de Atletas Baianos com Necessidades Especiais (Aabane). 

“Nós necessitamos de condições favoráveis, não só para jogadores, mas as pessoas deficientes em geral. Precisamos de rampas nos pontos de ônibus, espaço para cadeirante, estacionamento específico, cadeiras específicas para o basquete, além dos pontos de acessibilidades nas quadras para treinar. São coisas que, geralmente, não conseguimos ter”, diz ela, que também é presidente da Aabane.

Cleuma conta como os paratletas fazem para cobrir os custos sem a profissionalização. “O paradesporto possui ‘Bolsa Atleta’, oferecida a clubes que estejam entre os primeiros no raking nacional, ou para atletas que estejam na seleção brasileira, o que não é o caso do nosso time e jogadores. Dessa forma, o custo é dos atletas. Chegamos a fazer rifas para viabilizar a disputa de campeonatos”.

A busca pela popularização do esporte no estado parte também dos próprios jogadores. “Nossa melhor forma de divulgar é no boca-a-boca. Chamamos as pessoas, conhecidos, amigos, familiares e contamos com o apoio da Sudesb, mas a maior parte da divulgação do basquete adaptado é feita pelos próprios atletas. O que funciona bem são as apresentações. Nos apresentamos em escolas, em praças, e as pessoas param e falam: ‘nossa, não sabia, que legal’.”, desabafa a paratleta.

Em julho, a equipe feminina da Aabane de basquete 3 x 3 de Cadeira de Rodas conquistou, pela primeira vez, a Copa do Nordeste. As atletas bateram a equipe da FSBA por 3 a 2, no melhor de três partidas. Cleuma foi a cestinha, marcando 11 pontos, e Irene Mendes foi eleita a melhor jogadora da competição. Com a conquista, a Aabane irá representar a região Nordeste no Brasileiro, que acontece em setembro, em São Paulo.

Ginástica artística

A ginástica artística passa por um processo de renovação na Bahia. Os atletas mais velhos são consolidados no mercado ou estão prestes a encerrar a carreira esportiva, o que força os treinadores a buscar atletas cada vez mais jovens para descobrir novos talentos no estado. Esse é o ponto que aborda o diretor técnico da Federação Baiana de Ginástica, Luiz Eduardo. “A ginástica infelizmente estagnou. Estamos agora retomando os trabalhos para fazer o esporte evoluir tecnicamente. Temos muito potencial, mas é preciso uma reconstrução”.

Assim como em outros esportes alternativos, a ginástica também sofre com as dificuldades de investimento. “Para preparar um atleta de nível nacional, é preciso trabalhar com os próprios recursos aqui no estado. Um atleta de bom nível exige estrutura de ginásio e materiais.”, explica Luiz, que já foi técnico da Seleção Brasileira de Ginástica.

Para atrair o público e novos atletas, a ginástica artística segue o mesmo padrão dos times de basquete adaptado. “Nós sempre fazemos apresentações, nos mostramos para a mídia e fazemos o boca-a-boca. Só assim conseguimos desenvolver o esporte. Precisamos de mais apoio, de visibilidade na mídia para as pessoas conhecerem esse esporte maravilhoso que é a ginástica artística”, afirma Luiz.

Na formação dos pequenos talentos, o professor explica que os técnicos trabalham com o esporte e a educação lado a lado para um desenvolvimento completo da criança. “Independente de formar um atleta de alto nível, a criança deve sempre ser incentivada ao estudo. A realidade do esporte não é fácil, então a formação desta criança é a prioridade. Percebendo o talento, partimos para buscar a evolução dela no nível competitivo”.


Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, a equipe brasileira de ginástica artística atingiu uma marca histórica na última semana. Os brasileiros encerraram o Pan somando quatro ouros, quatro pratas e dois bronzes. Este resultado supera o recorde anterior, alcançado no Pan do Rio-2007, quando os atletas faturaram quatro ouros, duas pratas e cinco bronzes.

O destaque da competição foi o paulista Francisco Barreto Júnior, que conquistou três medalhas de ouro, nas modalidades equipe, cavalo com alças e barra fixa. Um feito inédito na história da ginástica artística do Brasil. 

Futebol americano, basquete adaptado e ginástica artística são apenas alguns dos esportes que buscam a valorização na Bahia. O aumento do número atletas e a procura por novos talentos mostram que, além do futebol, outras opções surgem para os amantes dos esportes. Mas ainda há um longo caminho a ser traçado, que depende de incentivo e investimento. 


A Tarde
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