Um idoso de 71 anos, morador do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, morreu em casa após 3h de espera para o atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A filha dele relata ainda que o corpo só foi retirado da casa pela funerária 24h após a morte.

Eduardo Rajo morreu na manhã de quarta-feira (20). A filha dele, identificada apenas como Karina Rajo, conta que o idoso estava passando mal desde a segunda-feira (18), com febre e falta de ar.

"A gente tentou falar com o Samu, porque desde a segunda-feira (18), quando ele começou a sentir falta de ar e febre, eu ligo para o Samu. Liguei para o Samu duas vezes e eles negaram, disseram que não podiam vir aqui em casa, pois não estava com uma suspeita muito forte de Covid-19 ou de outra situação. Disseram que só vinham em caso mais grave, de ataque cardíaco ou outra coisa", disse.

"E aí, mandaram eu ficar em casa com ele, observando ele, pois as UPAs e os hospitais estavam todos lotados. Aí eu fiquei em casa com meu pai, porque não tinha como locomover ele. Ficou eu, meu filho e ele em casa, dando paracetamol. Meu pai ficou a noite toda em casa, sentindo febre e muita falta de ar, um cansaço constante", conta Karina.

A filha do idoso diz ainda que além do quadro de saúde de febre e falta de ar, Eduardo não estava se alimentando direito. Na manhã de quarta, ele passou mal novamente e o Samu foi acionado mais uma vez.

"Ele não estava se alimentando, se alimentou bem pouco no dia anterior. Ele já não estava falando direito, estava sentindo muitas dores no pescoço e eu sabia que aquele quadro não era de Covid-19, mas a gente tinha que ter certeza. E eu sempre me comunicando com uma amiga minha, que é da área de saúde", disse.

"Aí quando foi de manhã, ele me chamou para beber água e disse que queria fazer xixi. Quando cheguei no quarto, que fui pegar ele para dar água, ele caiu e me abraçou. Isso foi 6h, liguei para o Samu que só veio chegar 9h", lembra ela.

Karina disse ainda que a declaração de óbito do pai não foi entregue por um médico. Ela denuncia o descaso da equipe do Samu e da equipe da funerária, que só foi buscar o corpo no dia seguinte.

"Dois enfermeiros me deram a declaração de óbito, não foi um médico. Vieram com o maior descaso, gritando no prédio. Dizendo para todo mundo que poderia ser uma suspeita de Covid-19 porque ele tinha febre. Todo mundo ficou em pânico", conta.

"Ele [enfermeiro] nem sequer fez um teste em meu pai. Mandou que eu colocasse uma máscara em meu pai, nem sabia se meu pai estava em óbito. De 6h da manhã às 9h, três horas para salvar uma pessoa. E pior, depois só vieram [funerária] pegar o corpo de meu pai hoje [quinta-feira, 21], depois de 24h".

Com a chegada da funerária, a família passou por mais um momento difícil. Apenas um funcionário esteve na casa para buscar o corpo e a filha de Eduardo teve que carregá-lo. Sem conseguir, Karina precisou pagar a uma pessoa que passava na rua para colocar o corpo no carro funerário.

"A gente pagou a essa pessoa e essa pessoa teve que tirar o corpo junto com o cara da funerária. Inclusive, o rapaz da funerária disse que viu no corpo placas vermelhas, e que com certeza foi infarto", conta ela.

O corpo do idoso foi enterrado na manhã desta quinta-feira em um cemitério da capital baiana. Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), responsável pelo Samu, informou que só tomou conhecimento da situação a partir da produção da TV Bahia, e que vai averiguar o que aconteceu.

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