Um vídeo obtido pela TV Globo mostra a saída da cadeia de Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como Abelha, apontado como "presidente do Comando Vermelho" nos presídios. Nas imagens, ele cumprimenta o secretário de administração penitenciária, Raphael Montenegro.

As imagens são de 27 de julho, imediatamente depois de Abelha deixar o presídio Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, irregularmente. Ele foi solto mesmo com mandados de prisão pendentes e é considerado um bandido de "altíssima periculosidade".

A investigação afirma ainda que, três dias antes, houve uma festa de aniversário para Abelha com salgadinhos, refrigerante e bolo de aniversário. O secretário, segundo a investigação, esteve presente.

O RJ2 apurou que Raphael Montenegro chegou a ser alvo de mandado de busca e apreensão na semana retrasada, em uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio, para investigar a saída de Abelha da cadeia.

Na segunda-feira (16), o segundo vice-presidente do TJ, desembargador Marcus Henrique Pinto Basílio, oficiou o então secretário a explicar por que o traficante saiu da prisão havendo mandado contra ele.

Prisão de ex-chefe da Seap

Montenegro foi preso nesta terça-feira (17), suspeito de ajudar na saída irregular do criminoso e de negociar uma "trégua" com traficantes da facção criminosa. Também foram presos dois outros servidores da secretaria.

A cúpula da Seap e do CV firmaram os seguintes acordos:

  • retorno de criminosos da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, para o Rio de Janeiro;
  • a entrada de pessoas e itens proibidos em unidades prisionais fluminenses;
  • a soltura irregular de Abelha.

Na casa de Montenegro, segundo a Polícia Federal, foram encontrados R$ 250 mil. Agora, a PF investiga também se houve atos de corrupção.

Em entrevista ao RJ1, o governador Cláudio Castro (PL) disse que o secretário atuou por vontade própria.

Ninguém negocia pelo governo. Se ele [o secretário] estava fazendo qualquer coisa era por vontade própria.

Saída de Abelha da prisão

Em 2020, Abelha, já encarcerado, foi apontado como um dos mandantes da invasão ao Complexo de São Carlos. Mesmo com um mandado de prisão expedido à época, Abelha permaneceu no regime semiaberto — quando deveria ser transferido para uma prisão mais rígida.

No dia 14 de julho deste ano, o juiz Alexandre Abrahão, do 3º Tribunal do Júri, decretou uma nova prisão do traficante, pela morte de Ana Cristina Silva, de 26 anos.

Apesar disso, a Seap seguiu com os trâmites para libertá-lo. No dia 26, quando o sistema acusava essa e outras pendências, a secretaria consultou a Delegacia de Polícia Interestadual (Polinter) sobre a soltura.

Às 20h57, a especializada respondeu que havia aquele mandado de prisão e que, portanto, Abelha não deveria ser solto.

A defesa de Abelha, no entanto, apostou na estratégia de enganar a Justiça. Advogados foram ao Plantão Judiciário alegando que só havia um mandado de prisão, já recolhido, mas a juíza de plantão negou a soltura.

Mesmo assim, no dia 27, por volta das 8h, a Seap acabou soltando Abelha.

A trégua, segundo a investigação

  • Raphael Montenegro vai ao presídio federal em Catanduvas
  • Ele se encontra com os presos para firmar um acordo
  • Secretário diz que vai ajudar no retorno de criminosos a presídios do Rio
  • Das cadeias cariocas, presos têm mais facilidade para comandar atividades ilícitas
  • Em troca, chefes da quadrilha dão trégua em algumas das atividades criminosas
  • Resultado, diz a investigação, é uma falsa sensação de tranquilidade social à sociedade
  • Paralelamente, Polícia Federal apura indícios de corrupção

Outras suspeitas na Seap

Esse não é o primeiro escândalo envolvendo a Secretaria de Administração Penitenciária na gestão de Raphael Montenegro.

Em fevereiro, o RJ2 mostrou que três presos deixaram a cadeia com alvará de soltura falso. Um deles era João Filipe Barbieri, condenado a mais de 20 anos de prisão por tráfico internacional de armas.

Outro integrante da quadrilha, João Victor Rosa, também saiu da cadeia pela porta da frente. Os dois já voltaram pra prisão.

Em maio, a TV Globo mostrou que presos acusados de serem responsáveis pela invasão do Complexo de São Carlos em 2020 deveriam ter sido enviados para presídios de segurança máxima, mas a Seap levou os detentos para o Presídio Vicente Piragibe, onde os presos podem circular livremente e as celas não têm portas.

Na época, a Vara de Execuções Penais disse que não autorizou a transferência e que a mudança foi irregular.

Fonte: G1

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